NON DVCOR DVCO

Dia desses o Tiago, um de meus amigos de mais longa data, escreveu no blog da Perestroika, depois de uma vinda a SP, que:

Toda vez que eu venho pra cá, fico com a mesma sensação. De uma cidade cinza, esfumaçada e sem sal. Sem alma. Sem a personalidade que as maiores cidades do mundo têm.

Ao que prontamente respondi que ele estava tendo a típica reação de alguém que conhece São Paulo de dentro de um táxi. Na verdade, confesso que o post me incomodou por uma razão bem simples: porque iria incitar todo aquele estúpido ufanismo gaúcho que é, talvez, a melhor razão para se querer sair correndo de Porto Alegre e manter a distância por um bom tempo. Sei que não era a intenção do Tiago, mas vocês podem olhar lá que o resultado nos comentários foi o esperado.

Porém, na semana em que São Paulo comemorou seus 456 anos, me peguei pensando o que, exatamente, me incomodava nessa declaração. A impressão de “cidade cinza” é tão exagerada quanto aceitável para alguém que só circule entre o inevitável circuito Jardins, Baixo Augusta, Vila Madalena e arredores – e seria um absurdo eu esperar que, em visita à cidade, alguém resolvesse ir conhecer algum bairro como o Morumbi ou Panamby. Da mesma forma, a questão da falta de horizonte é, sem sombra de dúvida, o que mais me incomoda e me faz precisar sair da cidade de tempos em tempos (de preferência pra pampa ou pro cerrado).

Também é verdade que abomino quem diz que “São Paulo tem tudo”, especialmente se completar com “contanto que se tenha dinheiro para pagar”. Primeiro, São Paulo obviamente não tem tudo – não tem Xis Coração ou pão Taauge, pra ficar em exemplos prosaicos -; segundo que alguém que, como o Tiago, “tem dinheiro pra pagar”, não precisa morar aqui para apreciar o que a cidade lhe oferece.

Até que, em meio a posts e matérias sobre o aniversário da cidade, dei de cara com o non dvcor dvco, aquela frase tão vista que acaba passando sempre batida. E ali me dei conta do que realmente gosto em São Paulo, e do que me fez achar que o comentário do Tiago era coisa de quem não conhece a cidade: as pessoas. Esta é a identidade, esta é a alma de São Paulo.

Pra quem não sabe, non dvcor dvco é o que consta na bandeira da cidade e quer dizer algo como “não sou levado, lidero”. E se isso não é a tradução exata da alma de São Paulo, então realmente isso aqui é só um aglomerado de 20 milhões de pessoas e eu estou ficando louco.

O reflexo mais óbvio disso é o que os idiotas citados lá em cima acabam enxergando como a “cidade que tem tudo”. Outros diriam que é “a cidade das oportunidades”. A verdade é que, para sobreviver a São Paulo é preciso abraçar esta filosofia, é preciso querer estar um passo à frente dos outros, sempre com medo de ser atropelado por quem vem atrás. E o resultado disso é que aqui, como em nenhum outro lugar do Brasil que conheça, se encontra pessoas preocupadas em não se acomodar, em trabalhar e viver sempre em busca de algo mais.

E isto é algo que, sinceramente, só é palpável depois de um bom tempo morando na e vivendo a cidade. Conversando com pessoas desde taxistas e atendentes em algum pé sujo, até colegas de trabalho e novos amigos feitos ao longo do caminho. E não é, certamente, algo que sirva de atrativo pra todo mundo. De todos meus amigos em Porto Alegre, acho que consigo contar nos dedos de uma mão aqueles que acho que teriam o ânimo e a guarda baixa para vir a aproveitar isso. E, querem saber? O Tiago é um deles.

Então, ainda que alguns dias atrasado, é esta a minha homenagem à São Paulo que hoje é minha casa e me trata tão bem desde que aqui cheguei.

roomie #1: mr. rosemberg

mr. rosemberg

Uma freqüente reclamação feita pelos que ficam, em relação àqueles que mudam-se de cidade, é de começarem a falar de pessoas exclusivas de seu novo mundo como se fossem conhecidos de longa data. Além disso, o Emiliano diz achar que estou morando em um aparelho do MR8, devido à falta de pessoas nas fotos de casa.

Assim, começo a apresentar-lhes as pessoas mais constantes nesta minha vida paulistana. E nada mais justo e inevitável do que fazê-lo começando pelo Gabriel, o rapaz tão bem retratado na fotografia acima, de autoria de Pedro Jansen.

Quando entrei na Live, há mais de um ano, ele era um ser um pouco misterioso, o psicólogo que vivia viajando para fazer pesquisas e cujo trabalho eu não compreendia inteiramente. Mal sabia eu que tínhamos estudado no João XXIII na mesma época, que ele era primo do Beto, e que tínhamos vários amigos em comum (23, segundo o Orkut).

Além disso, é certamente o principal culpado por hoje eu estar em São Paulo, e por morar nesta casa. E, claro, minha fonte oficial de motorização na cidade (seja em caronas para a Live, ou em empréstimos automotivos para deslocamentos eventuais, devidamente retribuidos na forma de frete ou ajuda na gasolina).

Nos próximos dias, tento arranjar fotos igualmente boas do Gui e da Carol, para apresentá-los a vocês. Se não conseguir, dou um jeito de o Pedro vir dormir aqui um dia, e fazer isso por mim.